O Festival de Roteiro Audiovisual de Porto Alegre anuncia seus 15 semifinalistas na categoria Roteiro de Longa-Metragem e FÉ PÚBLICA, de Leo Santos é um dos contemplados.
Fé Pública, livremente inspirado numa história real, conta a história de Júlio Barroso, um jovem negro de classe média do Rio de Janeiro que vai a uma favela na Zona Sul e é surpreendido por uma ação policial. Júlio é alvejado com dois tiros de fuzil e luta contra a morte. Ao ser preso, declara que é irmão de um Defensor Público e que por isso iria acabar com a carreira do policial responsável por seus ferimentos. Mergulhado em ódio, o policial decide então, por vingança, autuar Júlio por tráfico de drogas, associação ao tráfico e porte de armas. Para piorar sua situação, o policial decide levar Júlio para um hospital que não tem condições de receber um paciente com sua gravidade. Por sorte, Júlio consegue, graças ao médico que o atendeu, uma transferência para o hospital adequado. Após a cirurgia, Júlio enfrenta um gigantesco desafio, ter que ser levado para a prisão, mesmo ainda convalescendo. Júlio vive seus primeiros obstáculos na prisão enquanto aguarda o julgamento. Ao mesmo tempo, Paulo César, o irmão de Júlio e Defensor Público, tenta junto ao seu chefe que o caso de seu irmão seja revisto, mesmo sabendo que poderia prejudicar o seu próprio processo de promoção no Poder Judiciário. Júlio é condenado a doze anos de reclusão, num julgamento sem provas e baseado apenas na “Fé Pública”, ou seja, na palavra dos policiais envolvidos. Júlio então entra no sistema penitenciário e vai ganhando a simpatia de todos, dos presos aos carcereiros, ao ajudar na alfabetização dos apenados, na escrita de cartas para os familiares e na boa relação com os funcionários do presídio. Numa rebelião, Júlio ‘vira peça fundamental no desfecho sem maiores danos e a ordem é restabelecida, graças ao seu bom trânsito com todos. Após quase uma década, Júlio é finalmente libertado. A proposta criativa do filme Fé Pública passa por transformar visualmente as masmorras do sistema penitenciário brasileiro em verdadeiras senzalas, provando que, mesmo após mais de 130 anos de uma encenação chamada de abolição, promovida por uma corte que não aguentava mais as inúmeras revoltas e as pressões externas para que terminassem com a carnificina, não considera que haja uma dívida histórica com toda uma população livre que foi sequestrada, morta e vendida como mercadoria para sustentar uma lógica de superioridade. Os tambores ritmados entrarão na composição da trilha sonora sempre que o ambiente externo der lugar à vida dos encarcerados e as músicas do ambiente prisional serão compostas apenas por notas bemóis e sustenidas, que eram a base de todas as músicas africanas antes da colonização pelos europeus. Dessa forma, o objetivo é levar ao espectador a ideia de continuidade do processo de criminalização do homem negro desde os tempos do Império e que perduram até hoje, sem um avanço considerável de civilização, já que boa parte da sociedade ainda vive e se inspira nas castas sociais para manutenção de seus privilégios.
"A realização desse roteiro é um passo importante na minha carreira, mas é, acima de tudo, o grito dos excluídos, uma homenagem aos meus antepassados sequestrados em algum lugar do continente africano e trazidos para o trabalho forçado no lugar onde eu nasci e cresci sem entender como a maioria da população é tratada como minoria numa sociedade adoecida por sua ferida aberta, ecoando em cada beco de favela, em cada fila do hospital público, nunca representado nos altos escalões dessa sociedade. É hora de dar voz a esse povo marcado e esquecido. É hora de falar e limpar a maior ferida que um país pode ter. Só assim iremos avançar como nação e alcançar a verdadeira abolição.", diz Leo Santos.
Todos as sinopses dos roteiros semifinalistas você pode confrir em https://www.frapa.art.br/concurso-longas?fbclid=IwAR0AgBMJeyKbSsdQpsLV_czNBXpXu5RWNg86MfLobE7tYEwjH2zNoAezAGA
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